Mas o que seria uma festa no mar...?
Foi dia de Iemanja...
ao invés de lhe ofertar um presente e prestar homenagem...
presente ganhei eu...
A Rainha me mergulhou... até o abissal profundo... aonde o azul é negro, aonde a sozinhez se faz mais só... aonde se esconde o tesouro de saturno...
Um mergulho, uma travessia, um umbral...
a princípio achei estranho...
como assim o dia de Iemanjá, não ter cheiro de rosas?...
Mas mergulhada perdi um tanto de meu olfato...
E na verdade o trabalho era outro, não se tratava de sentir o perfume...
tratava de ser real... conhecer as nossas emoções, nem sempre cheira bem...
Azul, Azul... fui mergulhando mais profundo, fui buscar lá no fundo minha nova coroa... fui abrir a ostra, colher nova pérola... me olhar no espelho, da Iemanjá Sobá, delas todas o aspecto mais antigo... a mais velha, a que Sabe. E ela era preta, preta, pretinha.
Não dancei, nem escutei o som dos atabaques, unida a comunidade... apenas mergulhei no silêncio, e silêncio as vezes não é ausência de barulho... é sim, escutar tudo quanto pede pra ser ouvido por dentro, real, ilusório, bonito ou feio...
silêncio é a humildade de ouvir o que me habita... ouvi o que pude... não lutei, apesar de receber a visita do medo, a visita da culpa, a visita da arrogância de querer mudar o outro, a intolerância de querer mudar a mim... no entanto, de tanta estranhez, quis tentar explicar... palavras apenas, palavras pequenas...
pensei que ia enlouquecer... tudo balançou...
Escutei sabedoria amorosa de Netuno, - aquele bardudo - com sol já quase raiando, alguma coisa no meu inconsciente se clareando.
enlouqueci. cresci.
menstruei.
compreendi enfim...