quarta-feira, 5 de setembro de 2012

" Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração..."



A ditadura, aquela famosa ditadura militar terminou, mas qual é a ditadura que ainda vigora em nossas vidas?
As vezes ela se disfarça de espiritualidade, as vezes ela se disfarça de regras para a boa convivência, as vezes ela se escancara em nosso esforço para sermos bem vistos pela família, no nosso esforço em atar a nossa sangria a fim de não a derramarmos em nossos amigos, as vezes se disfarça de humildade, em não querer ser grande...

A ditadura nossa de todo dia se disfarça em nossa fantasia de no dia em que formos "assim" será bom... isso muitas vezes envolve receber em troca uma migalha de um suposto amor de alguém ...

Essa ditadura nos fere os instintos, nos anestesia, nos faz comer pão e água, enquanto poderíamos comer uma exótica fruta comida no pé, ou mel fresco de abelhas selvagens...

Ela veste as roupas da religião: nos faz castas, faz com que não queiramos nos sujar... e é inevitável que se quisermos ficarmos limpas demais não nos lambuzaremos de vida...

Existe um ditador ao qual damos vida e autoridade dentro de nós, sim em parte somos responsáveis por tudo que nos acontece, mas a outra parte corresponde algum tirano exterior que introjetamos, pode ser o pai, a mãe, a madrasta, o marido, namorado, um padrinho, um guia espiritual... essa figura é Hitler, e quer fazer de nós uma raça pura, quer nos separar do nosso sangue judeu, talvez você deva ser mais sorridente, mais séria, mais magra, menos triste, menos barulhenta, mais falante, mais organizada, mais pontual, menos careta, mais saudável, mais feliz, mais disciplinada. É perigoso, porque talvez essa onda te leve a querer perdoar, quando é hora de explodir, de agir e mandar a fuder a valer... talvez ela te leve a querer acreditar no reino das águas claras e calmas, quando é hora de mergulhar na sua sombra até que a lama desse pântano se torne medicinal, um bálsamo. É perigoso no caso da mulher, é ainda mais sedutor, somos sensíveis, temos mais abertura mesmo em nosso corpo, o homem tem um buraquinho, nós mulheres temos uma fenda elástica entre as pernas, isso é ótimo, faz com que bebês possam atrevessar os mundos, no entanto faz com que deixamos penetrar mais no que poderíamos... dá nos uma elasticidade que nos permite ferir a nossa integridade mais e mais e mais um pouco, ah! ainda dá pra dar um esticadinha... se estivermos lubrificadas por uma ilusão então bateremos recordes no diâmetro da penetração. Cuidado, a nossa religião deve ser os nossos instintos selvagens intactos, isso requer suportar o lamaçal no submundo da nossa alma...

Por mais sútil que seja essa ditadura, ela anestesia, cega, cansa... nos faz percorrer o deserto e beber leite de camelo na ilusão de que chegaremos a algum lugar, nos ilude que estamos fazendo uma travessia, que somos lagartas em um cásulo e um belo dia chegará a nossa hora, mas ficamos feito o ramster em sua rodinha... parece um exercício, parece movimento, parece esforço, parece crescimento.... mas não nos permite um passo a frente em direção a nossa integridade.

Parece espiritualidade, parece uma questão, parece inteligência, parece amizade,parece um processo que estamos vivendo... mas em grande parte é puro excesso de raciocínio... um sinal claro de que estamos separadas de nossos instintos mais primordiais, que nos servem de alicerce para a vida feita a mão. Pura e clara. Sem firulas.

Sim essas palavras são minhas.

Agora cito Clarissa Pinkola, em Mulheres que correm com os lobos. Página 454 - A demarcação do Território.


"Se a mulher sofreu danos ao seu instinto, ela costuma se deparar com alguns desafios relacionados á raiva. Em pimeiro lugar, ela tem problemas para reconhecer invasores. É lenta na percepção de violações ao seu território e não se dá conta da própria raiva até que esteja dominada por ela.
Essa demora resulta de danos aos instintos provocados por exortações ás meninas para que não percebam desavenças, para que tentem criar a paz a todo custo, para que não se intrometam e suportem a dor até que tudo se acalme ou se disperse por algum tempo. A atitude dessas mulheres consiste em não agir em sintonia com a raiva na hora certa, talvez se adiantando ou tendo uma reação retardada semanas, meses ou mesmo anos mais tarde, ao perceber o que deveriam ou poderiam ter dito ou feito.
Geralmente isso não resulta de timidez ou introversão, mas de um excesso de raciocínio, de um esforço exagerado no sentido de ser simpática e de uma falta de ação por impulso. A alma selvagem sabe quando e como agir, se ao menos a mulher lhe der atenção. A reação correta contém percepção acrescida de quantidades adequadas de compaixão e de força. O instinto prejudicado deve ser restaurado através da aplicação e imposição de limites definidos e da prática de respostas firmes e , quando possível, generosas, mas mesmo assim sólidas.
A mulher pode enfrentar dificuldades para liberar sua raiva, mesmo quando isso lhe prejudica a própria vida, mesmo quando a raiva faz com que ela não se livre de acontecimentos passados há anos como se tivessem ocorrido ontem. Repisar eventos traumatizantes por um certo tempo é muito importante para cura. No entanto, todo ferimento acaba sendo suturado, podendo se curar com a formação de cicatrizes."




Fica a dica...

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