sábado, 22 de setembro de 2012

Primavera chegou...

"Meu Deus tu és o deus da primavera, o que faz florescer, o que faz crescer.
Será que é mesmo necessário que sejamos pequenininhos, para que tu sejas todo-poderoso?
"Pobres pecadores" para que tu sejas misericórdia?
Não é suficiente que estajamos nus, para que tu brilhes, que estejamos vazios para que sejas tudo?
Tu não és um deus que desconfia das mulheres, que canoniza os santos e queima as feiticeiras.
Tu és belo e amas a beleza.
Eu orei a ti com frequência, meu deus, para que me livrasse dos deuses que acusam, que desprezam e fanatizam...
E tu me enviaste a primavera, a amendoeira floresceu.
Respirei o belo dia e a grande noite, reconheci teu sopro no jardim, tua brisa à beira do lago.
Tu me ensinaste que rezar mais é respirar melhor.
Ainda não sei se és o deus dos amantes, se és aquele que ama em todos que amam.
Já sei que não és o indiferente, o que deixa chorar o enfermo e a criança, visto que então seria menor que a menor das mulheres.
Meu deus não sei quem és.
Por vezes o que nos dizem de ti nossos sábios e profetas não me diz nada... não te conheço mestre da estações, mas todas as estações me falam de ti.
És o deus da primavera, a vida que faz florescer, a vida que faz crescer.
És o deus do verão, a vida que nos ilumina e nos queima.
És o deus do outono, a vida que faz amadurecer, que nos faz produzir frutos e dançar no momento das colheitas.
És também o deus do inverno, a vida que faz morrer, que nos sepulta para renascermos melhor na próxima estação.
És o deus das amêndoas, a casca e a semente de tudo o que vive e respira.
És a luz que ilumina todo homem vindo a este mundo, e como a Luz, nunca te vi.
O sol é teu reflexo, o vento teu eco.
És o deus da turquesa, das águas invioladas, o movimento de suas vagas do nascente ao poente.
És a pulsação inumerável cujo vestígio coração humano esquece ou venera.
És o que és.
Amo-te sem te ver, sem te tocar, e , no entanto, sei que me deste olhos para ver e braços para abraçar.
Um dia talvez, em cores oceânicas, um homem virá, para dar te um semblante e abençoar a terra na oferenda de meu corpo...
Então eu te amarei, meu deus, como as mulheres amam, como as crianças, como a tempestade e nos tornaremos um."

Passagem atribuída a Maria Madalena em Cântico dos Cânticos.

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